sexta-feira, 6 de junho de 2014

O mistério da mula sem cabeça de Serra Negra

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Notícia: Rã descoberta no Nordeste faz som de cavalo e ganha nome de "pocotó"
Fonte: UOL
Data: 06/06/2014
Nível do conto: 4
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- Ô tia!

- É o quê, Laurina?

- Que história é essa que meu bisavô se morreu por causa da Mula sem cabeça?

- Eita, infeliz... Teve isso não!

- Foi o que meu pai tava dizendo...

- Ah, menina. A gente morava era num sitiozinho bem do pobre perto de Serra Negra.

- Aqui pertinho de São Paulo, é?

- É não, menina! Serra Negra lá no Rio Grande do Norte!

- Então, diga!

- A gente morava num sitiozinho pobre, a casa era de parede de barro, bem humilde... E toda noite Voinho contava história pra botar susto na gente.
A gente se morria de medo, dava o que fazer pra dormir, mas queria mais era ouvir história toda noite.
Até que teve um dia que Voinho contou a história da mula sem cabeça. E que quem se botava pra fora de casa de noite podia era dar de cara mais ela.
Fomo todo mundo dormir, a mãe apagou o lampião e aí que começou um barulho esquisito. Era barulho de cavalo trotando. E não parava era nunca. E a gente foi logo achando que era a tal da mula sem cabeça que veio pra se bulir pro nosso lado.

- Era mula mesmo, era?

- O barulho não parava, tava do ladinho da gente, parecia que ia furar a parede e a mula ia entrar. Era menino gritando e ninguém mais dormia. Só depois de um tempo que o barulho parou. Mas aí que ninguém dormia mais. Quando foi no outro dia que ficou de noite...


Continuando...


- Pois conte tudo, tia! Conte! - Pedia a sobrinha com os olhos esbugalhados ajoelhada aos pés da tia sem paciência por já ter contado aquela história milhões de vezes.

-  Seu pai tava numa fissura danada dizendo que ia proteger nóis da tal da mula. Já tinha todo mundo se aquietado na cama e o meu irmão saiu escondido quando ouviu o trotar de cavalo. Eu peguei a coberta e joguei na cabeça. Não sabia se chamava o pai ou o voinho pra dar jeito e fazer aquela peste ir deitar. E foi que o barulho parou outra vez.

- Meu pai matou a mula?!

- Mas é nada!A mula era um sapinho menor que seu dedo mindinho, menina. Vinha dele aquele barulhinho de poc poc que nem cavalo. Mal dava pra ver na palma da mão do meu irmão. E ele ria, e ria tanto!

- Mas e o bisavô? Se não foi mula sem cabeça, foi o quê?

- Pois a única mula sem cabeça que tinha era ele, que naquela noite bebeu o que não devia, mesmo depois do doutor falar que não podia. O pobre nunca mais se levantou...

- Que história mais sem graça... - Disse a menina dando com os ombros e queixos caídos em sinal de desapontamento.

Ao deixar a tia em paz, a velha sorriu. Olhando pela janela, viu os prédios cinzas da cidade grande e pensou na sobrinha que queria uma mula sem cabeça, sendo que ela nem um sapo coaxando pôde ouvir outra vez desde que chegou alí.

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