terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Antes do tempo


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Notícia: Acúmulo de água na pista bloqueia trecho da BR-116 em Tapes, RS
Fonte: G1
Data: 13/01/14
Nível do conto: 2
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10.01.2014


Alice e eu acabamos de chegar ao Camping dos Pinheirais. Acredito que já tenha passado das dez da noite, mas não tenho certeza… Eu insisti que deveríamos deixar os nossos celulares no hotel Pontal. Queríamos um pouco de paz para comemorarmos 1 ano de casados. Há muito tempo eu
estava querendo fugir da rotina em Porto Alegre. Está bem escuro aqui, mas posso ouvir o mar tranquilo e o vento mexendo com os galhos das árvores. Alice tá um pouco irritada de ter que dormir na barraca. Besteira! Cuidei pra que ela não tivesse nenhum desconforto. Ela tá grávida e nosso bebê chega mês que vem. Isso a tem deixado um pouco mais sensível e menos aventureira do que costumava ser. Mas a saúde está ótima. Não há riscos! De qualquer maneira, acho melhor não tocar violão pra não parecer que não ligo.


11.01.2014


Aproveitei que Alice acordou com a cara boa pra propor uma caminhada. Seguimos pela areia pesada e não tinha como sermos indiferentes à natureza ao redor. Lembrei do homem que conhecemos num posto de gasolina ontem e que nos respondeu porque a cidade se chamava Tapes. Ele disse que a palavra indígena significava “trilha para o mar”. Alice e eu nos demos conta de que o nome da cidade era mais que justo. Foi bonito ver quando ela se virou pro mar e, passando a mão naquela barriga linda, disse: “Julia, você pode sentir isso? Seu pai e eu estamos no paraíso!”
Enquanto descanso à sombra de um pinheiro, controlo a ansiedade de dar uma volta de barco pelo Lago dos Patos mais tarde. Alice disse que tá meio indisposta, então vou sozinho mesmo.
Como choveu muito por esses dias, não vai rolar o passeio lá pela região das barragens. Minha mulher tá achando até bom...



12.01.2014


Viagem interrompida. Estou assustado. Minha esposa se tancou no banheiro do camping e não está se sentindo bem. Pelas contrações, acho que a Julia quer vir antes do tempo. Não tem médicos por aqui e já são quase três horas da manhã. Resolvi escrever um pouco pra ver se me acalmava, mas não tá adiantando. Temos que voltar pra Porto Alegre agora.



13.01.2014






14.01.2014


A culpa é minha. Eu insiti pra gente conseguir viajar e desencanar um pouco. A Alice precisava de um pouco de paz pra que a nossa filhinha pudesse nascer mês que vem sem maiores problemas. Ainda estou em choque. Ontem amanheceu cinza e barulhento na rodovia. Não estava chovendo… Eu não entendo de onde poderia vir toda aquela água que já atingia o assoalho do meu carro. Vimos um carro sendo arrastado. Minhas mãos grudaram no volante e eu lutava contra minhas fraquezas para poder acalmar minha esposa que se contorcia no banco de trás. A bolsa estourou assim que deixamos o camping em Tapes. A Júlia iria nascer. Percebi que a tendência era de que a água na via diminuisse. Ainda que não acontecesse, eu precisava fazer alguma coisa. Saí do carro e agarrei o colete de um policial rodoviário que controlava o engarrafamento das pistas. “Minha mulher entrou em trabalho de parto. Pelo amor de Deus, me ajuda!”.


Acho que não fiz uma abordagem sutil. Tanto que o carro mais próximo pôde me ouvir. E foi deste carro que surgiu um médico, acompanhado de sua família, disposto a me dar uma força.


De volta ao carro, Alice segurou forte minha mão e gritou ao médico que não queria que o nosso bebê nascesse ali. O policial rodoviário se aproximou correndo e, preocupado, sugeriu que eu retornasse para Tapes. O trânsito estava melhor naquele sentido e havia um hospital no centro.


Minha esposa aguentou o quanto deu…Respirava conforme a orientação do médico que ia fazendo o que dava durante o percurso. Por fim... Júlia nasceu no hospital!


Ao saber da notícia e me certificar que as duas estavam bem, minhas pernas ficaram moles e fui amparado pelo médico que conheci na BR. Não sei o seu nome, nem precisava… Apenas o abracei chorando e sem acreditar que havíamos passado por aquilo. Não me perdoaria se alguma coisa ruim acontecesse...

Alice e Júlia ainda estão no hospital e minha filha vai precisar ficar um tempo na encubadora. Acho que tá tudo sob controle… O jeito vai ser permancer aqui no camping. É um bom lugar para renovar minhas energias, esperar pela minha família e voltarmos pra casa.

2 comentários:

  1. Moço, vou te bater. Acampar com mulher gravida de 8 meses? Mas que ideia. Rss

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    Respostas
    1. Hahahaha Eu não aconselharia, mas tem uns casais bem agitadinhos por aí. Pelo que pesquisei, Tapes é bem pertinho de Porto Alegre.

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